Disco de vinil: o que há de tão misterioso que o faz funcionar?

Um internauta jogou na roda a anedota, “Nunca vai entrar na minha cabeça como um disco de vinil SAI SOM (sic), não importa o quanto me expliquem. Não entendo o sulco, a agulha. Não entendo. Para mim, beira o misticismo mesmo”, escreveu “joy”, em um tuíte viral.

Pois bem, nosso amigo perdido tem razão. A experiência da música analógica é especialmente mágica. Mas, por mais que já tenham tentado explicar ao rapaz, há, sim, uma ciência por trás do ato de colocar um LP para girar. E não é tão difícil entendê-la.

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Explicação ligeira

Quando o disco gira, uma agulha se move por microranhuras impressas na superfície do vinil. E ela “lê” as informações ali contidas.

Esta leitura gera um sinal elétrico que é transferido para um amplificador (ou pré-amplificador), que pode estar dentro de uma vitrola ou de um receiver de toca-disco.

Dali, o sinal é conduzido aos alto-falantes do sistema de som, onde o “misticismo” acontece: a reprodução da sua favorita.

Fim.

Fim? Não, calma

Para compreender realmente como a centenária tecnologia dos discos funciona, é preciso entender o que são ondas sonoras e como elas se comportam.

Ondas sonoras são manifestações mecânicas que resultam de vibrações de partículas através de um meio. No caso dos sons que escutamos no dia a dia, esse meio é o ar.

Quando essas partículas atingem nossos tímpanos e os fazem vibrar em determinada frequências, nossos ouvidos as identificam como som.

OK, mas como os discos funcionam?

Discos funcionam porque possuem sulcos. Nada mais do que ondas sonoras impressas em uma superfície plana. Imagine a impressão digital de uma música registrada em um vinil. É isso.

São essas ranhuras codificadas que determinam o comportamento das ondas sonoras ao se moverem pelo ar. E é aí que entra (literalmente) a agulha, com sua ponta afiada.

Imagem: Reprodução

Produzida com material ultraresistente, como diamante ou safira, a extremidade da agulha é conectada a uma barrinha de metal (cantilever) acoplada a uma cápsula, que funciona como o cérebro do toca-discos.

É a cápsula que transforma energia física em sinal elétrico, por meio de um sistema interno de imãs ou bobinas, a depender do modelo.

Durante a execução de um disco de vinil, a agulha se movimenta milimetricamente entre as paredes dos sulcos, e essa vibração é transmitida para a cápsula.

À medida que o cantilever pressiona a ponta da agulha cada vez que ela se move, um campo eletromagnético é criado, e o sinal é enviado desde o braço do toca-disco até o amplificador.

Ainda está confuso(a)?

Vamos a um passo a passo.

  • O toca-disco faz o LP (ou EP, compacto ou qualquer outro formato analógico de disco) girar.
  • A agulha se move lateralmente ao longo das ranhuras seguindo a “impressão digital” do disco.
  • O cantilever captura essas vibrações e as envia para a cápsula.
  • A cápsula, com seu sistema transdutor, converte a energia mecânica em elétrica.
  • Essa energia é então transferida para um amplificador como impulsos elétricos, que são traduzidos em ondas sonoras.
  • O amplificador envia o sinal de som para os alto-falantes, com seus diafragmas que se movem para frente e para trás no mesmo padrão transmitido pela agulha. E é assim que as partículas “vibrantes” de ar chegam aos nossos ouvidos como música.
  • Imagem: Clube do Áudio/Reprodução

    Duas curiosidades

    • Cole sua orelha na cápsula e faça o teste: você pode ouvir a música em um toca-disco, em volume muito baixo, mesmo com alto-falantes e amplificador desligados. Isso ocorre porque a agulha oscila no mesmo padrão de um alto-falante e funciona como se fosse um em miniatura, “vazando” parte do som.
    • Os sulcos, um em cada lado do LP, são esculpidos no formato de V. E, em discos stereos, cada parede traz informações de um dos canais, direito e esquerdo. Ou seja, cada onda sonora é impressa de um lado diferente.

    Mas como os sulcos são feitos?

    Resumidamente, um engenheiro de masterização faz o caminho inverso ao do toca-disco. Usando um torno programado para codificar as ondas de som na forma de relevos, ele desenha as ranhuras em um disco de acetato virgem enquanto a música é reproduzida em tempo real.

    O disco precisa ser galvanizado, banhado com prata, níquel e revestido com laca, formando uma camada metálica que é separada do original. Ela é chamada de matriz, o molde “negativo” que servirá de base para produzir discos em escala industrial.

    Imagem: Gerd Engelsmann

    Esse molde é encaixado em máquinas que aplicam uma força de cem toneladas sobre o PVC derretido, “carimbando” os sulcos no vinil que você tem em casa. E é por isso que dizemos que os LPs são “prensados”, porque isso realmente acontece.

    Apesar de todo o processo semiartesanal e demorado, a parte final de prensagem é rápida. Leva menos de 30 segundos.

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    E até a próxima datilografada!

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