Com os pés para o alto no sofá, depois de um dia longo de trabalho e atividades rotineiras, Cristina da Silva buscava em redes sociais e sites de venda a casa que se encaixasse no perfil que procurava, atendendo aos critérios de estrutura que ela mesmo estabeleceu, da localização do bairro que sempre quis morar em Campina Grande, na Paraíba, e que pudesse ser comprada por meio de crédito imobiliário. Essa é uma técnica que cresce entre os brasileiros, segundo o Google Brasil, que registrou um aumento de 12% nesse tipo de pesquisa somente no início de 2024.
Demorou dois anos para que ela achasse a casa perfeita. Afinal, a escolha e também a decisão precisavam de cautela. Antes disso, até pensou que havia a encontrado, mas esbarrou em um processo lento e burocrático, que não chegou a ser concluído e ainda rendeu uma grande dor de cabeça. Quando achou a oportunidade que considerou como a certa, se surpreendeu com a rapidez e a agilidade das negociações e de um procedimento quase todo desenrolado pela internet.
Em uma folga, no começo do ano, enquanto passeava com mais tranquilidade por perfis de corretores de imóveis pelo Instagram, a costureira, de 50 anos, se deparou com a casa que tinha a estrutura que queria e também um valor que coubesse no orçamento estipulado. Depois de conferir cada espaço da residência pelas fotos postadas, enviou uma mensagem para a profissional que havia feito o anúncio, publicado há menos de uma semana.
Algumas horas depois, mesmo no pico do Carnaval, a corretora respondeu ao contato. Foi então que a já cliente recebeu mais informações sobre a casa e começou a negociar. Nessas primeiras conversas, conseguiu uma redução de R$ 15 mil do valor anunciado.
No fim da mesma semana, em um dia atipicamente chuvoso para o primeiro trimestre do ano no Nordeste, a compradora se encantou novamente, mais dessa vez de forma presencial, pelo imóvel que superou as expectativas que ela alimentava há alguns dias. A visita à residência foi um grande passo rumo ao fechamento da compra.
“A casa parecia ainda melhor quando entrei. O jardim era maior, a sala era imensa, os quartos e o quintal também”, recordou.
No fim do encontro, a cliente sentenciou que ficaria com o imóvel. Agora, precisaria do mais importante, além da própria vontade, que era a aprovação do crédito e, em seguida, o fechamento do contrato de financiamento imobiliário.
A documentação foi toda enviada por aplicativos de mensagens. Depois, o contrato com a imobiliária foi assinado de forma digital pela plataforma gov.br. A praticidade desse momento, embora despertasse um pouco de insegurança, fez a diferença para quem protagonizava um cotidiano quase todo ocupado pelo trabalho, de onde não poderia se ausentar tantas vezes.
Isso também facilitou para os vendedores, que moram em outros estados e teriam como grandes pedras nos sapatos a necessidade de viajar mais de uma vez durante o processo de venda.
Em poucos dias, o crédito imobiliário foi aprovado pelo banco. E antes mesmo que a corretora avisasse, a notificação da boa notícia chegou por e-mail.
A última etapa foi uma das poucas vezes que demandou a presença física de todos os envolvidos, já que a assinatura final do negócio, assim como outros acertos de pagamento, precisavam ser feitos na própria agência bancária. Em menos de 15 dias depois, as chaves do novo lar já cabiam nas mãos de quem estava vivendo o sonho alimentado por anos e que se tornou realidade.
‘Transformar sonhos em realidade’ se tornou uma atividade mais rápida com a digitalização dos processos
“Transformar sonhos em realidade”. É assim que Aline Ferreira define o propósito do trabalho que desenvolve como corretora de imóveis. Com atuação no setor imobiliário há dois anos, a paraibana faz parte do crescente número de novos profissionais que começaram a surgir na Paraíba durante a pandemia de Covid-19 e que fizeram com que a categoria dobrasse no estado em 10 anos, segundo dados do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Paraíba (CRECI-PB).
De forma mais efetiva no mesmo período, a facilidade e rapidez se tornaram rotina para as negociações imobiliárias. Pelo menos, é assim que a corretora faz questão de trabalhar.
O dia começa cedo para ela, que acorda às 6h30, deixa o filho na escola, faz uma caminhada de 40 minutos antes mesmo de tomar o café da manhã. Depois disso, de volta para casa, a primeira atividade profissional do dia é responder mensagens deixadas por potenciais clientes no Instagram e também no Whatsapp. No decorrer do dia, entre uma obrigação e outra, esse ritual se repete inúmeras vezes.
O trabalho, além de energia e prestatividade, demanda ferramentas que não eram essenciais no começo desse ofício. A função, atualmente, exige o uso de celular, tablet e computador, por exemplo.
“Com certeza o uso do celular é de fundamental importância para que eu possa desenvolver o meu trabalho. Sem o uso de celular, seria impossível atender bem todos os meus clientes”, reconhece.
Embora pareça apenas intuitivo usar tantos dispositivos e também a internet, criar e manter uma presença digital também exigiu adaptação de Aline, que precisa caprichar na produção de conteúdo para atrair os clientes que estão cada vez mais exigentes. No início, a timidez foi um desafio. Porém, agora superadas as dificuldades, as técnicas foram até refinadas. Hoje, inclusive, a inteligência artificial passou a fazer parte da criação de roteiros, que até permitem fazer graça na hora de anunciar.
“Antes a pesquisa de imóveis acontecia apenas por anúncio em jornais. O processo de compra se dava lentamente por ser tudo manual, desde a aprovação do crédito até a assinatura em banco. Antigamente um processo de compra de imóvel durava, em média, seis meses. Hoje, os processos duram aproximadamente uma média de dois meses”.
Para o trabalho de Aline, além dos elementos que ela apontou, a digitalização das atividades também proporcionou a quebra de barreiras territoriais. É mais fácil, por exemplo, fechar negócios por meio de assinatura digital com clientes que estão em outros estados e até outros países. Para ela, esse é um recurso que projeta mais celeridade e segurança para as movimentações, além de garantir a mesma validade judicial dos processos.
Assinatura digital ajuda com rapidez no fechamento de contratos
Quem também confiou na segurança das transações digitais na área de habitação foi o jornalista Erickson Nogueira, de 25 anos. O jovem nasceu e viveu a maior parte do tempo em Solânea, cidade do Brejo da Paraíba, localizada a 130 quilômetros da capital João Pessoa.
Encarava três horas diárias de viagem para ir e voltar da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), em Campina Grande, cidade universitária situada no Agreste do estado. Em 2019, pouco mais de um ano após começar o curso de jornalismo, ele resolveu se mudar de vez quando conseguiu uma vaga de estágio.
Passou três anos no último endereço alugado, que tinha as despesas divididas com um colega. Depois da formatura, sentiu a necessidade de ter mais privacidade e passou a procurar por um lugar que tivesse a cara dele. Assim, poderia chamá-lo de lar.
A busca foi quase totalmente feita pela internet, inicialmente por grupos no Facebook, perfil de corretores no Instagram e também em um site de anúncios. As fotos de cada ambiente e os valores eram sempre os primeiros observados. Assim, era possível perceber de cara se o imóvel se encaixava na personalidade e também coubesse no bolso do jovem.
A pesquisa durou cerca de dois meses até que a oportunidade pela qual ele esperava surgiu. Depois de avaliar foto por foto e conferir se as imagens revelavam a claridade que só uma casa bem iluminada oferece, o jornalista entrou em contato com a corretora que fez o anúncio, marcou a visita e foi até o local.
“Eu, particularmente, gosto de um espaço mais iluminado e arejado. Quando eu olhava a imagem, eu já me imaginava dentro daquele lugar e me perguntava: é tão claro quanto eu quero? Além disso, eu sempre perguntava o endereço exato da casa pra passar pela frente e observar se a localização era boa”
O contato presencial entre eles aconteceu somente nessa vez antes do recebimento das chaves. Dessa etapa, Erickson sempre fez questão. Foi assim que ele analisou também cada detalhe do possível novo endereço.
Erickson não fechou o negócio no momento da visita porque ainda precisava consultar familiares. Mas logo resolveu bater o martelo depois de também se encantar com a localização, a vizinhança e toda a estrutura que o condomínio oferece.
Para o fechamento do contrato, a conversa continuou por meio de um aplicativo de mensagens, pelo qual ele enviou toda a documentação necessária. Pouco tempo depois, recebeu o contrato da imobiliária e também não precisou se locomover para assiná-lo, já que a assinatura foi feita de forma digital.
Com o contrato assinado, o próximo passo foi também o último da negociação: receber as chaves. No total, esse processo durou cerca de 15 dias e surpreendeu o jovem pela praticidade.
Adesão digital aos negócios imobiliários deve crescer conforme a internet fica mais segura, sugere corretor
No mercado imobiliário há 26 anos e agora presidente do Sindicato da Habitação da Paraíba (SECOVI-PB), o corretor Érico Feitosa é mais um que reconhece os pontos positivos de trabalhar com assinaturas digitais, as quais considera como alternativas para a superação da distância geográfica.
Para ele, o e-notariado é uma referência. Esse serviço oferece a assinatura digital com o reconhecimento de firma, fator que eleva ainda mais a segurança nas movimentações.
Como avalia Érico, uma grande parcela dos clientes aceita bem o uso de meios digitais. Essa adesão, de acordo com ele, deve crescer conforme a internet alcançar um patamar de segurança total.
Contudo, o presidente do sindicato já considera inegável a importância das ferramentas digitais para a função do corretor de imóveis, especialmente quando o assunto é dar uma resposta mais rápida aos clientes.
“Evidentemente elas ficaram mais necessárias durante a pandemia, isso é fato. Houve uma impossibilidade de ter um contato mais físico, de você mostrar o imóvel. E aí você usava a chamada de vídeo pra uma visita virtual do imóvel, a apresentação dos imóveis pelo Instagram. Quem não tá no digital hoje, está fora do mercado. É uma necessidade. Elas são o que outrora eram os classificados de jornais”, recordou.
Por outro lado, Érico também alerta para a necessidade de um cuidado dobrado por parte dos possíveis compradores. Para negociações com mais segurança, ele dá algumas dicas.
“O cliente tem que saber se realmente está falando com um corretor de imóveis. O cliente deve averiguar se o corretor tem registro no CRECI. Existem várias maneiras junto ao CRECI, como a certidão de regularidade pra saber se o número do registro existe. Tem que desconfiar de propagandas boas demais, de preço baixo, condições muito boas”.
Como tendência para o setor, o corretor aposta na inteligência artificial. Ele reconhece que o recurso já é utilizado pela categoria e que ainda há muito o que desbravar.
“Muitos já utilizam pra desenvolver campanha, pra saber o melhor horário de postar, na criação dos roteiros de campanha e publicações. Algumas pessoas já utilizam e outras estão à procura de empresas que a usem. Essa é uma realidade pujante e será ainda mais no futuro. Tem que acompanhar, não tem o que fazer”.
Registros de imóveis chegam à marca de 50 mil atos online na Paraíba, onde apresentam alta
Ainda têm apresentado alta os serviços prestados pelos Cartórios de Registro de Imóveis da Paraíba, que atingiram a marca de 50 mil atos online efetivados pela plataforma eletrônica nacional registradores.onr.org.br, que permite a prática de uma série de serviços imobiliários de forma remota. Entre eles, a solicitação de certidões de imóveis.
Desenvolvida pelos Registradores de Imóveis do Brasil por meio do Operador Nacional do Registro de Imóveis (ONR), entidade responsável por implementar e operar o registro de imóveis eletrônico no país, o portal registrou um crescimento de 23% no primeiro semestre de 2024 em relação ao total de atos praticados no mesmo período em 2023, e de 608% em relação ao mesmo período de 2022, primeiro ano da plataforma.
Ao todo, foram 27.248 atos praticados no primeiro semestre de 2024, 22.148 no mesmo período de 2023 e 3.846 em 2022. O número de serviços online solicitados nos primeiros seis meses de 2024 é quase igual ao total de atos realizados em todo o ano de 2022, que é 19.763 mil.
Número de corretores dobrou em 10 anos na Paraíba
Se a incorporação dos dispositivos digitais está aumentando no mundo do trabalho dos corretores de imóveis, a quantidade de profissionais com registro no Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Paraíba (CRECI-PB) também está. Prova disso é que a categoria dobrou nos últimos 10 anos no estado, segundo dados da própria instituição. Atualmente, são 14.557 profissionais inscritos na entidade. Já até o fim de 2014, eram 7.393 registros.
O número de novos registros por ano começou a subir em 2021, no segundo ano da pandemia de Covid-19, mesma época em que ter uma presença profissional consolidada na internet se tornou mais necessário, como mostra a lista abaixo:
2014 – 766 novos registros, passando para o total de 7.393 inscrições.
2015 – 691 novos registros, passando para o total de 8.084 inscrições.
2016 – 552 novos registros, passando para o total de 8.636 inscrições.
2017 – 507 novos registros, passando para o total de 9.143 inscrições.
2018 – 432 novos registros, passando para o total de 9.575 inscrições.
2019 – 493 novos registros, passando para o total de 10.068 inscrições.
2020 – 698 novos registros, passando para o total de 10.766 inscrições.
2021 – 1.171 novos registros, passando para o total de 11.937 inscrições.
2022 – 1.408 novos registros, passando para o total de 13.345 inscrições.
2023 – 1.527 novos registros, passando para o total de 14.872 inscrições (sendo que com o encerramento de 315 inscrições na última década, no total, houve uma baixa para 14.557).
De acordo com a base de dados da instituição, a tendência é que o número de novos registros deste ano supere os dos anteriores. Até o mês de agosto, já eram 1.300 novos corretores registrados.
Além da alta perceptível do crescimento no interesse pela profissão, outros números mostram o quanto o setor está aquecido no estado.
Fixado em R$ 1.694,91 no último mês de agosto, o custo médio da construção civil na Paraíba, por metro quadrado, foi o segundo maior do Nordeste. Desse total, R$ 693,79 são referentes ao custo com mão de obra. Já os outros R$ 1.001,12 correspondem aos gastos com material. Os dados são do Índice Nacional da Construção Civil (SINAPI), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda na região, o valor ficou abaixo somente do registrado no Maranhão, que foi de R$ 1.720,99.
Por outro lado, foi menor do que o constatado na média brasileira, de R$ 1.767,09. Mas ainda foi maior do que o valor médio notificado na realidade nordestina, que foi de R$ 1.643,19.